tag:blogger.com,1999:blog-35488196841437040772024-02-17T21:05:28.191-08:00Constato FatosComo de hábito, observando a vida e constatando fatos.Leandro Aronahttp://www.blogger.com/profile/18111155335348221810noreply@blogger.comBlogger10125tag:blogger.com,1999:blog-3548819684143704077.post-49687644147352873462023-06-22T07:03:00.000-07:002023-06-22T07:03:02.246-07:00Passagens mais importantes;<p style="text-align: justify;"> <span style="font-family: "Arial", "sans-serif"; line-height: 115%;"><span style="font-size: medium;">"— Foi dito pelos deuses e registrado por eles mesmos, em tempos passados,
e mais tarde, quando os humanos surgiram, esse legado foi transmitido para a
sua posteridade pelos rishis (n.e. – sábios e semideuses) da Índia antiga, que
repousam nas naturezas das “espécies não humanas” muitos mistérios difíceis de serem
agora compreendidos por nós, os homens. Muitas espécies não humanas foram sendo
urdidas para sentirem a atração, como forma de superar a repulsão que então
existia, impedindo a agregação das forças da vida universal. Esses registros ou
aspectos dos segredos da vida daqueles seres foram depois inevitavelmente
repassados para os humanos. Quando esses segredos vieram parar na natureza
humana, os mesmos passaram a se esconder na herança das diversas “vontades
imperiosas” que hoje definem muitas das personalidades que se veem obrigadas a
sentirem essas atrações de antanho. Estas nada podem fazer no sentido de não
senti-las”.</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"> </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"> </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"> </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"> </span><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"> "E observe: o “bem” já é natural nas mulheres devido a sua função
de maternidade, ou seja, o “bem” tinha que existir nas “mães” para que estas pudessem
cuidar dos filhos. Mas isso não quer dizer que estivesse no coração dos homens.
Numa nova etapa da expansão da energia de atração vinda de um dos deuses da
trimurti (n.e. – Vishnu, que na mitologia grega foi chamado de Eros ou de
Phanes, e que mais tarde personificaria um homem chamado Jesus que, nessa
época, ainda não havia nascido), surgiu a “doçura masculina” e esse foi um dos
aspectos do problema. Nós aqui na Índia carregamos a doçura no coração, mas não
fazemos disso um impulso à atração entre pessoas do mesmo sexo. O impulso
comportamental que temos transforma isso em fraternidade, devido ao modo como
observamos a presença do sagrado em cada pessoa, independente de sexo. Vocês,
gregos, tratam essa sensação de modo diferente do nosso, transformando-a em sentimento
de paixão e de amor. Isso não tinha que ser assim, mas assim é devido ao que o
deus Kama (n.e. – uma das expressões de Vishnu) provocou nos seres para superar
a desagregação inicial, a tal desconfiança que precisava ser superada”.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"> </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"> </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"> </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"> </span><!--[if gte mso 9]><xml>
<o:DocumentProperties>
<o:Version>12.00</o:Version>
</o:DocumentProperties>
</xml><![endif]--><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> “De
modo estranho, há cerca de 543 milhões de anos — há controvérsias cientificas
sobre a precisão exata dessa data — misteriosamente os mares do mundo já
aparecem cheios de seres pluricelulares, polarizados como macho e fêmea.</span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> Mais
ainda: esses seres pluricelulares, ao aparecerem, portanto, já ostentando
órgãos sexuais, agora se sentiam “atraídos” como se a função da sexualidade
tivesse surgido como subproduto de uma força desconhecida cuja meta era a de
gerar um “movimento de consciência” diametralmente oposto ao que mantinha os
organismos desgraçadamente desconfiados e separados uns dos outros.</span></p><p style="text-align: justify;"> <span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">E é
nessa força de atração que reside todo um mistério que hoje responde pelo
desejo sexual que, nos humanos, irrompe no seu psiquismo como produto de todo
esse passado. Por quê? Já que, enquanto espécie somos a mais recente surgida na
história do universo, a “espécie bebê” do cosmos, é por isso que carregamos no
DNA do nosso genoma toda essa carga de forças “atavicamente adormecidas” e
agora potencializadas na condição de cada consciência particularizada. Mais
ainda: esse impulso é sempre “atualizado” pelos fenômenos quânticos da
“interconectividade não localizada” — o que implica dizer, de modo simplório,
que estamos todos interconectados, independente do local onde possamos estar.</span><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"> </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"> Nisso reside a
componente homoafetiva que, como subproduto mental, como opção de superação da
desconfiança, como força de atração gerada para superar de qualquer maneira a
extrema desconfiança que impedia o progresso dos seres, pôde se expressar
através de cada ser, de acordo com o mapa pessoal do seu “passado existencial”
traduzido num código genético”.</span></p>Leandro Aronahttp://www.blogger.com/profile/18111155335348221810noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3548819684143704077.post-14302181092957939382022-07-22T07:48:00.002-07:002022-07-22T07:48:17.927-07:00Verbete: MULHERES.<p> <span style="font-family: Arial, "sans-serif"; font-size: 14pt; text-align: justify;">Fonte:</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">DICIONÁRIO</span></u></b><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;"> <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>de</u></b> <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>HISTÓRIA</u></b> <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>da</u></b>
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>ÁFRICA</u></b> <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>–</u></b> <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>SÉCULOS</u></b> <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>VII</u></b> <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>A</u></b> <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>XVI</u></b> <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>[Nei</u></b> <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>Lopes</u></b> <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>&</u></b>
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>José</u></b> <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>Rivair</u></b> <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>Macedo]</u></b><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Verbete:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">MULHERES.<o:p></o:p></span></u></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Uma
história das mulheres nas antigas sociedades africanas, levando em conta a
diversidade de situações, cronologias, contextos, com a multiplicidade de
enfoques que o tema exige, ainda está para ser escrita. O pouco que até agora
foi dito, são geralmente relatos que expressam um foco narrativo eminentemente
masculino, produzidos por <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>não</u></i></b> <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>africanos</u></i></b> –
viajantes, geógrafos, missionários, etc. Nesse conjunto, observam–se
interpretações que, ao procurarem retratar as formas de inserção das mulheres
na <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>História</u></i></b>
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>africana</u></i></b>
fizeram–no a partir de referenciais externos, eurocêntricos, colonialistas,
condicionados por parâmetros masculinos. Há que se reconhecer o valor
informativo de trabalhos pioneiros, como os de David Sweeterman (<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>1988</u></i></b>),
Henrich Loth (<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>1988</u></i></b>). Entretanto, nessas obras o enfoque se restringe
basicamente às biografias de personagens femininas exemplares ou em posição de
poder. Pouco ou nenhum espaço, até aqui, ganharam reflexões ou discussões sobre
os traços particulares das formas de organização das mulheres comuns, recaindo
em abordagens generalizantes ou essencializadas – como a ideia limitadora de
uma suposta <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>“mulher</u></i></b> <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>africana”</u></i></b> atemporal,
deslocada das realidades socioculturais específicas do tempo e lugar em que
viveram. Em sentido inverso, o excesso de teorização produziu igualmente
perspectivas de abordagem muito genéricas e engessadas. Nelas, as mulheres
aparecem conceitualmente aprisionadas, na condição de “força de trabalho” e de
reprodutoras dessa força, no modelo <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>marxista</u></i></b> <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>do</u></i></b> <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>“modo</u></i></b>
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>de</u></i></b>
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>produção</u></i></b>
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>doméstico”</u></i></b>;
modelo esse gerado pela violência do rapto e da inserção feminina em sociedades
cujos valores se baseiam na caça e na guerra, atividades de que são
enfaticamente excluídas. Como ressaltado em Balandier e Maquet (<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>1968</u></i></b>,
p. 172), as interpretações que reduzem o papel da mulher, na <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>África</u></i></b>,
a um estado geral de alienação e exploração por parte dos homens contém, sim,
um fundo de verdade; mas trata</span>–<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">se de uma situação historicamente
recente, devida principalmente às consequências econômicas da colonização.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Matriarcado</span></u></b><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;"> <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>e</u></b> <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>matrilinearidade.</u></b><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">No
livro <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>L’Unité</u></i></b> <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>culturelle</u></i></b> <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>de</u></i></b>
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>l’Afrique</u></i></b>
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>Noire</u></i></b>
(<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>1959</u></i></b>),
Cheikh Anta Diop identificou <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>o</u></i></b> <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>modelo</u></i></b> <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>matriarcal</u></i></b>
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>como</u></i></b>
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>traço</u></i></b>
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>distintivo</u></i></b>
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>geral</u></i></b>
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>da</u></i></b>
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>África</u></i></b>
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>Negra</u></i></b>,
opondo–o ao modelo patriarcal da Europa. Essa identificação é controversa; e a
própria ideia de um tipo de sociedade em que as mulheres sejam ou tenham sido
chefes ou dirigentes é atualmente rejeitada pela maior parte dos antropólogos
como hipotética e ultrapassada (SILVA, <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>1986</u></i></b>, p. 730). O que
efetivamente existiram e existem são sociedades em que o caráter ou a condição
do sistema de parentesco e organização social é matrilinear. Esse sistema, em
que apenas a ascendência materna é levada em conta no que concerne à
transmissão do nome e dos privilégios e à condição de pertencimento a um clã,
ocorreu e ainda ocorre em <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>diversas</u></i></b> <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>sociedades</u></i></b> <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>africanas</u></i></b>.
Tal ocorria, por exemplo, entre tuaregues, soninqués, <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>mandingas</u></i></b> e
uolofes; e entre alguns grupos da <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>Bacia</u></i></b> <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>do</u></i></b> <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>Congo</u></i></b>.
Em algumas sociedades antigas, foram observadas potencializações da influência
feminina. Um dos casos mais conhecidos é o dos bijagós, povo da atual <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>Guiné–Bissau</u></i></b>,
entre os quais as mulheres desempenhavam e desempenham papéis de chefia e
posições de poder na constituição familiar e na organização social, inclusive
tendo a faculdade de escolher os maridos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Senioridade.<o:p></o:p></span></u></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Entre
os antigos iorubas de <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>Oyó</u></i></b>, por exemplo, a divisão
sexual ou mesmo a identidade de gênero sexual parece não terem sido princípios
estruturadores fundamentais. Nessa sociedade, as caracterizações “homem” e
“mulher” não se restringiam ao gênero sexual, e a própria expressão linguística
das diferenças entre masculino e feminino mostrava-se ambígua. Nela, segundo
algumas interpretações, não prevaleciam nem um dimorfismo sexual e nem relações
hierárquicas determinadas pela identificação anatômica dos sexos: as posições de
prestígio vinculavam–se à origem familiar e, sobretudo, à senioridade. Num
outro exemplo, vamos ver que, na tradição dos axântis da moderna <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>República</u></i></b>
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>de</u></i></b>
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>Gana</u></i></b>,
entre os vivos de uma família a pessoa mais importante é a mulher mais idosa.
Essa mulher, seja como mãe, avó, tia, etc., é vista como detentora da maior
capacidade para aconselhar e arbitrar conflitos. Mesmo um homem poderoso na
esfera civil ou militar não deve tomar grandes decisões sem consultar a mulher
mais idosa de sua família (HAFNER, <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>2000</u></i></b>, p. 56). Nas <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>antigas</u></i></b>
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>tradições</u></i></b>
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>orais</u></i></b>
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>mandingas</u></i></b>
relativas ao herói fundador Sundiata Keita, lê–se que este, quando convidado a
retornar do exílio em que estava e voltar ao Mandê, viu–se dividido entre a
obrigação com a coletividade e com sua mãe, Sogolon Kedju, que se encontrava
enferma, à beira da morte. Sundiata não seguiu os emissários do Mandê antes de
cumprir com suas obrigações nos momentos finais de sua genitora, assegurando–lhe
cuidado, atenção e um sepultamento digno (PALA; LY, <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>1982</u></i></b>, p. 185). As
relações de tipo matrilinear não implicavam em superioridade sociopolítica para
as mulheres. Entretanto, conferiam a elas uma posição de prestígio, baseada na
ideia de solidariedade e respeito; e sobretudo no reconhecimento da experiência
da idade. Contudo, nas sociedades gradualmente influenciadas pelo islã ou pelo
cristianismo, a reconfiguração em moldes patriarcais fez com que as mulheres
perdessem parcialmente o prestígio de que desfrutavam (COQUERY–VIDROVICH, <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>1986</u></i></b>,
p. 24). Nesse sentido, o relato da viagem de Ibn Battuta ao Antigo <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>Mali</u></i></b>
em 1352–1353 testemunha o choque cultural entre os preceitos islâmicos que
estavam sendo difundidos na área saariana e subsaariana e os costumes locais.
Quando passou pela cidade de Ualata, o sábio marroquino percebeu, como coisa
“curiosa e estranha, “que os homens não se ligam à descendência do pai, mas à
do tio materno, herdando os filhos da irmã e não seus próprios filhos”. Além do
mais, indignou–se por descobrir que os homens não tinham qualquer ciúme de suas
esposas, que agiam com grande liberdade em relação aos seus parceiros (CUOQ, <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>1985</u></i></b>,
p. 295–296). O que Ibn Battuta considerou “anormal” e sintoma de relaxamento
dos costumes era percebido de outra forma fora das premissas patriarcais do
islã. Inclusive, porque, na época, a doutrina muçulmana estava ainda em fase de
implantação e atingia apenas parcialmente as sociedades africanas. Semelhante
estranhamento demonstraram escritores do mundo cristão no fim do século XVI
diante da vigência da matrilinearidade entre os uolofes, <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>mandingas</u></i></b> e <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>fulas</u></i></b>
da região da <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>Senegâmbia</u></i></b> (ALMADA, <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>1964</u></i></b>, p. 9–10). Esses já
estavam parcialmente doutrinados pelo islamismo, mas ainda não totalmente
desvinculados de seus antigos costumes. Ao longo do tempo, a <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>História</u></i></b>
registrou algum protagonismo feminino, como nos casos das <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>hauçás</u></i></b> <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>Amina</u></i></b>,
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>Bazao–Turunku</u></i></b>,
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>Kahina</u></i></b>,
etc. Entretanto, é em épocas anteriores, como as do <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>Egito</u></i></b> <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>faraônico</u></i></b>
e do período de domínio romano, pela existência de mais fontes escritas, e
também posterior, certamente pelo número mais avultado de crônicas e relatos de
viajantes, que aparece mais o protagonismo feminino na <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>História</u></i></b> <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>da</u></i></b>
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>África</u></i></b>.
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><u>Rainhas–mães.</u></b><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">O
prestígio e poder conferido às consortes dos governantes é, nas <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>sociedades</u></i></b>
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>africanas</u></i></b>,
um traço que remonta à <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>Antiguidade</u></i></b>. Tal foi o caso
das kandaces da antiga <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>Méroe</u></i></b> que governaram junto
com os seus parceiros ou sozinhas, ocupando posição de grande destaque
político. No antigo <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>Monomotapa</u></i></b>, a rainha–mãe, considerada “mãe de todos os
reis”, tinha voz na corte e no conselho real (COQUERY–VIDROVITCH, <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>1986</u></i></b>,
p. 36). Da mesma forma, na área congo, as rainhas–mães eram respeitadas e
reverenciadas, servindo de mediadoras ou atuando diretamente na esfera
política, embora nunca se tenha admitido que elas fossem chefes de <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>Estado</u></i></b>
(THORNTON, <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>2006</u></i></b>, p. 437–460). No Antigo <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>Mali</u></i></b>, a
preeminência da primeira esposa do mansa, chamada kasa, de papel equivalente ao
de “rainha–mãe”, era tal que ela dividia com o marido a representação do poder
e governava pessoalmente a província de <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>Djenê</u></i></b>. Além dela, a favorita
do mansa, referida como baramuso, era a confidente, a quem ele não ocultava
nada, nem os segredos que pudessem comprometer sua vida. A influência dela era
disputada por todos os interessados em se aproximar, se aliar ou se opor ao
governante. Segundo parece, em épocas muito recuadas os povos nono eram
governados por mulheres, algo que ainda ocorria em 1470, quando foram
incorporados ao <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>Império</u></i></b> <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>Songai</u></i></b> por Soni Ali. Com a
islamização do <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>Mali</u></i></b>, este protagonismo feminino diminuiu, mas em certos
locais indícios sugerem a continuidade dos costumes ancestrais. Na região de <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>Segu</u></i></b>,
até o século XX mantinha-se o costume de obediência a dois reis que partilhavam
o poder: um “rei da guerra” (kelemasa) e um “rei da paz” (deelikemasa).
Enquanto o primeiro representava a força e a violência, o outro detinha a
influência da palavra e era chamado a intervir em situações de negociação e
conflito, representando o polo feminino do poder. Por isso, os homens que
desempenhavam essa função eram castrados, vestiam–se e ornamentavam-se
parcialmente como mulheres, cobrindo–se com turbante ou portando um véu sobre a
boca e a fronte (BAZIN, <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><u>1988</u></i></b>, p. 375–441). Ver AMINA;
AXÂNTIS; BAZAO–TURUNKU; BIJAGÓS; CONGO; ELENI; IORUBÁS; JUDITE, Rainha; KAHINA MANDINGAS;
MATRIARCADO; MATRILINEARIDADE; OYÓ; KIBINDA ILUNGA; SONIN QUÉS; SUNDIATA KEITA;
TUAREGUES; UALATA; UOLOFES.<o:p></o:p></span></p>Leandro Aronahttp://www.blogger.com/profile/18111155335348221810noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3548819684143704077.post-47504555154094127782016-01-11T02:43:00.002-08:002016-01-11T03:53:32.655-08:00<div style="text-align: justify;">
Uma das caracteristicas negativas do ser humano é a sua necessidade de lutar contra fatos consumados, aquelas situaçoes ou coisas presentes em algum momento e que a sua <a href="https://www.youtube.com/watch?v=bmFYqHH1Igk" target="_blank">vontade</a> individual nao fará que com que mudem de modo algum. A conta de <a href="https://www.youtube.com/watch?v=Y43XLVqjytQ" target="_blank">eletricidade</a>, por exemplo; com esse calor do verao, você vai deixar o <a href="https://www.youtube.com/watch?v=zwsl-SuOEXc" target="_blank">ventilador</a> ou ar condicionado desligado em nome da economia, para passar um desconforto enorme? Claro que nao, o que você precisa é pensar o seu consumo de eletricidade de uma maneira racional, de modo a nao ter surpresas desagradaveis quando chegar a conta no fim do mês. Mas isso significaria fazer com que você tenha de sair da sua zoninha de conforto, nao é? E isso se traduz em esforço, algo que você nao quer desempenhar de modo algum, e com isso prefere ficar reclamando na sua sala de estar, sentindo aquele calorao.</div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>Outro exemplo: um casamento de alguns anos, em que uma das partes já nao ama mais a outra; o que seria melhor? Ambos se separarem e cada um buscar sua <a href="https://www.youtube.com/watch?v=-whxgSUWvSA" target="_blank">felicidade</a> novamente; mas nao: o casal prefere ficar junto a todo custo, mais para provar para os outros que ainda se amam (quando isso nao é mais verdade) ou alimentando a <a href="https://www.youtube.com/watch?v=i9nXEXWlQ5Q" target="_blank">ilusao</a> de que um dia o <a href="https://www.youtube.com/watch?v=wU0Pp2n6ooE" target="_blank">sentimento</a> voltará quando lá no fundo, ela e ele sabem que isso nao se confirmará. E dá-lhe os dois lutarem contra um fato consumado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>Por isso admiro o cearense que, mesmo formado professor na faculdade, prefere descer até <a href="https://www.youtube.com/watch?v=qQwatt3CrD4" target="_blank">Sao Paulo</a> pra ser arigó na construção civil, esse ao menos está lutando contra um fato consumado, e certamente ganhando mais que alguem que precisa manejar quase quarenta alunos por turma em até três turnos por dia em cinco dias da semana.</div>
Leandro Aronahttp://www.blogger.com/profile/18111155335348221810noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-3548819684143704077.post-38515869253892191632015-08-31T04:05:00.002-07:002015-09-02T06:33:34.342-07:00A ilusão que é o futebol<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Neste sábado último (escrevo no
domingo, 30-08-15), eu me dirigia a um ponto de ônibus, com o intuito de voltar
para casa, após uma não muito necessária ida a um supermercado, quando passei
por <a href="http://ecnovohorizonte.web681.uni5.net/" target="_blank">um clube de futebol</a>; <a href="http://ecnovohorizonte.web681.uni5.net/index.php/site-map/futebol/juvenil" target="_blank">um clube de futebol amador, digamos assim, voltadopara as chamadas "categorias de base" (sub-17, sub 16...)</a> e
vislumbrei, além do homem responsável pelo clube naquele momento, uma senhora e
mais dois guris, adolescentes provavelmente com idades entre quatorze e
dezesseis anos de idade. Deveriam estar "fazendo ficha no clube", ou
tentando saber como as coisas funcionam para serem admitidos em seus quadros.
Aí me dei conta: tentariam o futebol. Ou melhor: se entregariam à ilusão que o
futebol proporciona.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Eu
apenas posso imaginar motivos para tentar uma carreira nesse esporte: ajudar
uma família possivelmente de pouquíssimas posses, ou jogar a sorte por
acreditarem que será uma saída profissional devido a possivelmente terem
passado por uma educação pública de qualidade ruim, ou ainda pela ambição de
obter o status, a fama e o dinheiro que conseguem os grandes expoentes do
futebol, como Cristiano Ronaldo. Olhando de vislumbre aquela cena, estava claro
(pela aparência deles) que certamente estavam ali por um dos dois primeiros
motivos que mencionei antes, senão pelos dois complementarmente.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Senti
pena daqueles dois adolescentes. Crer que um clube de sede exígua como aquele
seria a "porta de entrada" para uma "redenção" familiar ou
profissional é fruto de ingenuidade ou de desespero, e eu prefiro crer no
desespero, em casos assim. Precisarão mostrar algum talento para serem
aprovados e integrarem as equipes do clube; aquele não é um clube grande como o
Vasco, que tem seu próprio "networking": uma rede de empresários,
agentes, procuradores, olheiros e escolinhas, a fim de selecionar meninos
capazes de jogar futebol em um bom nível para atuarem nas categorias de base e,
em dado momento, chegarem ao time profissional.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Senti
pena dos dois, porque quase certamente, se conseguirem ser aprovados e jogarem
no sub-alguma coisa do clube, o máximo que alcançarão é atuar em clubes que
disputam a Série C do Campeonato Gaúcho, é isso que lhes espera. Depois de
jogarem profissionalmente por doze, treze anos em clubes desse patamar,
voltarão à estaca zero, sem qualquer formação profissional e sem ter tido
ganhos financeiros que lhes permitissem constituir um patrimônio expressivo e
uma acumulação considerável de dinheiro.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Seleção
Brasileira, Benfica, Atlético de Madri, ser um "novo" Neimar ou
Cristiano Ronaldo, são desejos e sonhos, bonitos para crianças e adolescentes,
que em casos assim apenas aliviam um caminho árduo, sem brilho ou fama.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Senti
pena de ambos, pois não creio de forma alguma que futebol deva ser a única
possibilidade desses guris vencerem a miséria. Não acredito que esporte
qualquer seja, deva ser uma "profissão"; para atuar em um clube de
futebol ou de voleibol, a filiação deveria ser algo voluntário e, por isso, sem
possibilidade alguma de remuneração. Não deveria nem haver ajuda de custo: você
pratica determinado esporte porque gosta, e fim de conversa. Todos as crianças
e adolescentes deveriam sim ter acesso a uma educação de qualidade equivalente
a alemã ou finlandesa, e especialmente as oriundas de famílias pobres ou
miseráveis, a preferência para a admissão em curso do SENAI, a fim de que com
21, 22 anos, tenham chances mais concretas de um emprego.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Há
os que, após lerem isso, pensarão que sou preconceituoso e não desejo que esses
jovens consigam chegar à universidade. De modo algum: se é isso que eles querem
também os apoio, o Governo Federal mantém o Fies. Porém, creio que esses já
quase adultos que querem suplantar a pobreza ou a miséria precisam
primeiramente, prioritariamente, de emprego e salário, e para isso, carecem de
uma formação qualificada, adequada, e em um espaço de tempo mais curto do que o
mundo acadêmico lhes oferece. E trabalhar na indústria, em uma linha de
produção não é demérito, degradação alguma, isso não passa de um pensamento
burguês, de gente que ainda herda uma característica da cultura ibérica: ser
avesso ao trabalho, especialmente se este exigir esforço físico em qualquer
grau; pessoas que se consideram "progressistas" ainda alimentam tal ideia.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Não
imagino o que será daqueles dois adolescentes, se conseguirão, por um capricho
do destino, serem admitidos pelo clube. É provável que, mesmo que o responsável
naquele momento tenha algum número de telefone para contato, não vá chamá-los
para teste algum. E tendo essa ilusão estilhaçada, terão uma vida difícil.</div>
Leandro Aronahttp://www.blogger.com/profile/18111155335348221810noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3548819684143704077.post-32051565423096864402015-08-26T11:40:00.001-07:002015-08-26T12:52:15.238-07:00PRÓLOGO PARA A RESENHA DE UM LIVRO (QUE NEM SEI SE CONSEGUIREI FAZER!).<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">Há
umas três semanas, aproximadamente, comprei o livro “<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjm7aAQBssa0KP8gEoibM18yvi1ikv7Mapl0BFXNgB3gawRlUQSfFys5BwpzQF-0H5eudd3qnGwc96-r6OOFUPFYcBhuSDL5BpDzAQp_FV059WeRDVGatClNCPClPg0Bv9HuxiWX7N2dpE/s1600/edb96a55-bf08-489c-b2bb-c6d0583bcc93.jpg" target="_blank">Galveston</a>”, escrito por
<a href="https://en.wikipedia.org/wiki/Nic_Pizzolatto" target="_blank">Nic Pizzolatto</a> – ele mesmo, o criador/showrunner de “<a href="https://www.youtube.com/watch?v=p4zluA60hjs" target="_blank">True Detective</a>” (das <a href="http://www.baixartv.com/download/true-detective-4/" target="_blank">duas temporadas</a>, <a href="https://www.youtube.com/watch?v=TXwCoNwBSkQ" target="_blank">a primeira [2014]</a> é a melhor até agora, e reflete mais a verve criativa do
escritor norte-americano do que <a href="https://www.youtube.com/watch?v=Q4uxGbhO4ag" target="_blank">a segunda [2015]</a>). Para escrever uma resenha honesta, preciso reler o
livro (algo que vai me tomar um tempo razoável); enquanto não faço isso, deixa
para você que lê o “Constato Fatos” um texto do <a href="http://www.papodehomem.com.br/" target="_blank">site Papo de Homem</a> sobre a
filosofia niilista (?) ou pessimista (?) sub-reptícia na 1ª temporada de “TD”,
expressa pelo protagonista (e ícone contemporâneo de muitos internet afora,
justamente por suas falas, especialmente do primeiro ao sexto capítulo – cada temporada
tem oito) <a href="https://www.youtube.com/watch?v=9oX2xFo7JA4" target="_blank">Rustin Cohle</a> (interpretado por <a href="https://en.wikipedia.org/wiki/Matthew_McConaughey" target="_blank">Matthew McConaughey</a> de um modo que
jamais vi qualquer ator ou atriz atuarem em minha vida!).<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">Segue
o texto abaixo:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;"><a href="http://papodehomem.com.br/a-vida-tem-sentido/">http://papodehomem.com.br/a-vida-tem-sentido/</a><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">A
vida tem sentido?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">Por
Victor Lisboa<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">Em
15/04/2014 às 00h00min | Artigos e ensaios Mente e atitude<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">Nota
do autor: embora este texto utilize como referência <a href="https://www.youtube.com/watch?v=qZtJPbXFGj8" target="_blank">um personagem de TrueDetective</a>, sua leitura não depende de o leitor ter assistido ao seriado; também
não há, no texto, qualquer revelação sobre a trama. Sem spoilers.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoListParagraph" style="line-height: 150%; margin-left: 53.4pt; mso-add-space: auto; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;">
<!--[if !supportLists]--><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: Arial;">1.<span style="font-family: 'Times New Roman'; font-size: 7pt; font-stretch: normal; line-height: normal;"> </span></span><!--[endif]--><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">Entardecer:
a viagem ao fim da noite<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">“Vi
o fim de mil vidas, de jovens e velhos. E cada um deles estava tão seguro de
sua realidade, de que sua experiência sensorial formava um indivíduo único,
dotado de propósito, de significado, tão seguro de que era mais do que um
fantoche orgânico. Bom, a verdade sempre aparece, e todo mundo percebe que,
quando as cordas são cortadas, todos caímos. Não importa se eles já estão
mortos, você ainda consegue ler em seus olhos. E o que você vê? Que eles deram
boas-vindas à morte. Não no início, mas exatamente no último instante. Isso é
um alívio inconfundível, pois antes eles estavam com medo e aí percebem pela
primeira vez como é fácil simplesmente se entregar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">E
eles percebem naquele último nano segundo que eles, que você, você mesmo, que
todo esse grande drama não passa de um ajuntamento de presunção e de tola
vontade, e que você pode finalmente se deixar levar, agora que não precisa
suportar tudo com tanta firmeza, e ver que sua vida, que todo seu amor, seu
ódio, suas lembranças, sua dor, tudo isso foi uma mesma coisa: tudo o mesmo
sonho, um sonho que você teve dentro de um quarto trancado em sua cabeça, um
sonho sobre ser uma pessoa.”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">Ao
lermos essas palavras, ditas pelo <a href="https://www.youtube.com/watch?v=pokVn1E-ZEQ" target="_blank">personagem Rustin Cohle</a> (interpretado pelo
vencedor do Oscar, Matthew McConaughey) do seriado True Detective, é quase
impossível resistir à tentação de clicarmos em outra aba do navegador,
consultarmos outra notícia qualquer ou qualquer atualização no F<b><i>acebok</i></b>.
Os mais descuidados em relação às suas próprias vidas, os menos interessantes
dentre os seres humanos podem até esboçar uma frase padrão como “bobagem, o
importante é deixar a vida me levar” e recorrer a alguma difusa lembrança sobre
suas convicções espirituais — mas nada muito complicado ou sério porque cansa. Trata-se
de puro instinto de autopreservação. As palavras do personagem são quase
tóxicas, radioativas para nossos egos, ciosos que somos de nossa importância.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">Porém,
há uma desonestidade fundamental em lermos essas palavras e desviarmos nossos
olhos delas sem ao menos uma detida reflexão. E se trata do pior tipo de desonestidade:
aquela que cometemos contra nós mesmos. É desonesto não porque as palavras de
Rustin sejam necessariamente verdadeiras, mas porque só podemos ser francos
diante de nós próprios após experimentarmos a visão de mundo que nos é
duramente proposta por elas, encarando a questão sobre se tais palavras
descrevem ou não uma verdade. Afinal, o personagem Rustin e todos aqueles
pensadores e filósofos reais que ele representa não pretendem expressar uma
opinião, mas descrever um fato. Um fato que nos diz respeito. Intimamente.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">Então,
se a descrição feita for falsa, apenas perderemos um pouco de nosso tempo com
uma bobagem. Mas se a descrição for real, então nossa desonestidade resultará
em que só descobriremos a verdade sobre nossas próprias vidas quando esse
conhecimento não for de utilidade alguma. E acontece que mesmo uma verdade
dura, amarga, é mais útil e preciosa para nossas vidas do que todas as ilusões
coloridas que possamos ter a respeito dela, e acredito nisso, pois tenho um
lema que me guia: às vezes há uma grande potência em reconhecer o quão pouco se
pode.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">Por
isso, convido o leitor a uma longa viagem ao fim da noite. Proponho que, diante
da tela do computador, tablet ou celular, ou mesmo imprimindo esse texto, tenha
alguns minutos de coragem, respire fundo e escute aquela vozinha na sua cabeça
que sussurra que repete:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">A
vida tem sentido? Vou morrer mesmo? Algum dia vou me sentir realizado ou isso é
uma ilusão?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">2.
Noite: somos um terrível acidente da natureza?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">“A
consciência humana foi um trágico passo em falso na evolução. Nós nos tornamos
autoconscientes demais. A natureza criou um aspecto distinto de si mesma. Somos
criaturas que não deveriam existir segundo a lei natural. Somos coisas que
operam sob a ilusão de possuírem uma identidade. Esse acréscimo de experiência
sensorial e de sentimentos é programado com a total garantia de que somos
alguém quando, na verdade, todo mundo é coisa nenhuma.”<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">Rustin
Cohle é um detetive fictício criado por <a href="http://www.thecrimevault.com/wp-content/uploads/2013/11/Nic-Pizzolatto-232x350.jpg" target="_blank">Nic Pizzolatto</a>, que se inspirou no
livro The Conspiracy against the Human Race (A Conspiração contra a Raça
Humana) de <a href="http://www.ligotti.net/" target="_blank">Thomas Ligotti</a> para criar a filosofia pessoal do personagem, como
declarou em uma entrevista. Thomas Ligotti é o mais recente pensador de uma
longa tradição de intelectuais que, como <a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Emil_Cioran" target="_blank">Emil Cioran</a> (escritor e filósofo
romeno), enxergam a existência humana como um erro. E esse erro reside justo
naquilo que nos distingue dos outros animais: a intensidade de nossa
consciência. É que, embora já esteja comprovado que os outros animais possuem,
sim, consciência, a nossa é muito mais desenvolvida, e essa característica é
considerada um defeito de fábrica replicado a cada nascimento humano por
pensadores como Ligotti, Cioran, <a href="https://en.wikipedia.org/wiki/Edgar_Saltus" target="_blank">Edgar Saltus</a>, <a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Miguel_de_Unamuno" target="_blank">Unamuno</a> e <a href="https://en.wikipedia.org/wiki/Peter_Wessel_Zapffe" target="_blank">Wessel Zapffe</a>.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">A
natureza do defeito seria que nossa consciência consegue sonhar com o eterno,
com o impossível e com diversas formas de êxtase, mas o mundo orgânico só tem a
nos oferecer a mortalidade, a insignificância e o desconforto (quando não a
dor, muita dor). E uma das provas de que esse defeito de fábrica seria grave é
o fato de que somos loucos o suficiente para criar armas nucleares e montar um
arsenal capaz de destruir o planeta diversas vezes. Segundo essa turma de
pensadores, que eu jamais convidaria para animar uma festa, do ponto de vista
de uma mente que procura sentido, que é capaz de conceber outras possibilidades
e de sonhar até com o impossível, a vida nada mais é que um absurdo, uma
espécie de condenação. E a prova do quão profundamente esse absurdo nos abala e
nos converte em organismos defeituosos é que somos capazes de fazer o que
nenhum outro organismo do mundo sequer sonha em fazer, somos capazes de cometer
o único pecado, o único crime da Mãe Natureza — ela, que perdoa absolutamente
todos os outros crimes e pecados cometidos por seus filhos: somos capazes de
cometer suicídio.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">Ligotti
resume bem essa perspectiva de que seríamos um erro da natureza no seguinte
trecho de A Conspiração contra a Raça Humana (a tradução é minha):<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">“Para
o restante dos organismos do planeta Terra, a existência é relativamente
simples”. Suas vidas giram em torno de três coisas: sobrevivência, reprodução e
morte — e nada mais.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">Mas
nós, humanos, sabemos demais para nos contentar com sobreviver, reproduzir e
morrer — e nada mais. Nós também sabemos que iremos sofrer durante nossas vidas
mesmo antes de enfrentar o sofrimento (lento ou rápido) que provavelmente vamos
vivenciar quando chegar o momento da morte. Este é o conhecimento de que
“desfrutamos” na posição de organismos mais inteligentes a brotar do seio da
mãe natureza. E, sendo dessa forma, nós nos sentimos trapaceados se não houver
nada mais para nós do que sobreviver, reproduzir e morrer. Queremos que exista
algo mais do que isso, ou gostamos de pensar que existe. “Essa é a tragédia: a
consciência nos forçou a ficar na paradoxal posição de nos esforçar a
permanecer inconscientes sobre quem somos — nacos de carne em decomposição
envolvendo ossos que se desintegrarão.”<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">Embora
o filósofo existencialista <a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Albert_Camus" target="_blank">Albert Camus</a> não se filie aos pessimistas que
flertam com a condenação da raça humana, só conseguiu afirmar a vontade de
viver após enfrentar com honestidade uma questão delicada: diante de uma vida
absurda, a única opção lógica não seria o suicídio? <a href="http://lelivros.site/book/baixar-livro-o-mito-de-sisifo-albert-camus-em-pdf-epub-e-mobi/" target="_blank">Camus</a> ousou enfrentar essa
pergunta e concluiu pela afirmação da vida. Teremos coragem, leitor, de
enfrentá-la como <a href="http://lelivros.site/book/baixar-livro-nupcias-o-verao-albert-camus-em-pdf-epub-e-mobi/" target="_blank">Camus</a>? Vamos adiante, em direção à noite escura, de mãos
virtualmente dadas, se necessário.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">3.
Meia-noite: a mentira é nossa vocação?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">“Veja,
temos dentro de nós o que chamo de armadilha da vida, esta certeza enraizada em
nossos genes de que as coisas serão diferentes conosco, de que você mudará para
outra cidade, conhecerá pessoas que se tornarão seus amigos pelo resto da vida,
de que se apaixonará e se sentirá completo.” Se essas outras palavras do personagem
Rustin Cohle expressarem a verdade sobre a natureza humana, então a única força
que nos faz seguir vivendo é uma espécie de programação genética que nos induz
a ter esperanças, por mais que os fatos contradigam firmemente e reiteradamente
nossas melhores esperanças. Seria um mecanismo simples, ainda que terrível
inserido dentro de cada indivíduo, iludindo-o, impedindo que ele cogite o
suicídio. Mas quando pensamos sobre esse mecanismo de forma mais ampla, quando
falamos de sua influência em nossa civilização, é aí que temos um verdadeiro
abalo sísmico em nossa visão da sociedade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;"><a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Ernest_Becker" target="_blank">ErnestBecker</a> publicou seu devastador <a href="http://desconstruindoilusoes.blogspot.com.br/2012/02/negacao-da-morte-uma-abordagem.html" target="_blank">The Denial of Death (A Negação da Morte) em1973</a>. Ainda pretendo falar mais a respeito dessa obra. Mas o que nos importa
agora é que, para Becker, o pavor humano diante da mortalidade faz com que
nossa cultura seja uma grande máquina dedicada a impedir que os indivíduos percebam
a realidade sobre sua própria condição existencial. Segundo essa concepção, uma
enorme parte de nossa energia e de nossos recursos enquanto sistema social é
destinado a mascarar a verdade. Em outras palavras, a maior parte de nossas
instituições, a maioria de nossos valores culturais, todas nossas ideologias ou
doutrinas espirituais, e mesmo a maior parte do que nos é repassado como visão
de mundo ideal na forma de publicidade e de mídia social não passaria de um
conjunto de estruturas cuja funcionalidade principal é, essencialmente,
distrair a todos nós sobre nossa verdadeira condição humana, desviando nossos
olhos da percepção de que somos como Ligotti falou “meros nacos de carne”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">Essas
palavras do personagem Rustin Cohle resumem tudo perfeitamente:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">“O
que isso diz sobre a vida? Vocês precisam se reunir, contar a vocês próprios
histórias que violam cada uma das leis do universo apenas para conseguir levar
o maldito dia?”<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">E
a conversão da civilização em uma máquina de distração que nos impede de
percebermos nossa verdadeira natureza ocorre seja porque é a forma mais
eficiente de nos manter operacionais e produtivos enquanto membros de uma
sociedade seja porque somos herdeiros das soluções equivocadas que nossos
antepassados tiveram de improvisar quando esse problemão, o excesso de
consciência, caiu em seus colos. Sendo mais preciso sobre esse último ponto, o
problema não é a verdade que não conseguimos ver, por estarmos distraídos
graças a um sistema social produtor de ilusões coletivas. O embaraço está no
fato de que nossos antepassados decidiram, equivocadamente (e precisamos
respeitar o medo que motivou esse erro), lidar com essa verdade simplesmente
por meio da sua negação, da cegueira, e assim construíram uma sociedade cujos
valores e alicerces estão baseados na ilusão.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">Como
somos herdeiros dessas escolhas e vivemos em tal sociedade, desmontar a
armadilha de negação e ilusões é, para nós (para nosso ego), uma experiência
dolorosa e problemática, já que fomos educados e condicionados a acreditar e a
sonhar com uma condição humana que não é verdadeira e que está tão afastada da
realidade que ela, a realidade, nos parece amarga. Perceba aqui o truque de
ótica: a realidade que recusamos a ver não é essencialmente amarga (talvez
fosse até doce), mas a sentimos assim porque somos vítimas da elementar regra
de que quanto maior é o voo das ilusões, maior é a queda na realidade. Se todos
nós tivéssemos nascido em uma sociedade cujos valores estivessem alicerçados
não na ilusão, mas na realidade, tal como ela é, talvez nosso mundo produzisse
menos sofrimento desnecessário e gastaríamos menos energia e recursos humanos
alimentando engodos. E o sofrimento desnecessário teria origem no fato de que
pagamos um preço alto demais para nos manter agarrados a ilusões. Quantas vidas
já foram sacrificadas em nome de religiões, de ideologias, doutrinas que, no
fundo, servem apenas para neuroticamente nos manter absortos e distraídos em
relação a real condição humana?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">4.
Madrugada: nossos erros são eternos?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">“É
como se esse universo fosse processado por nós de forma linear e para frente.
Mas fora de nosso espaço e tempo, no que seria uma perspectiva de quarta
dimensão, o tempo não existiria, e desse ponto de vista, se pudéssemos
atingi-lo, nosso espaço-tempo pareceria achatado, como uma simples escultura
com a matéria em uma superposição de todos os lugares já ocupados, nossa
consciência apenas circulando através de nossas vidas como carros em uma pista.
Entenda tudo que há fora de nossa dimensão é eternidade, a eternidade olhando
para nós.”<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">O
objetivo deste artigo não é tratar de cosmologia ou da estrutura do
espaço-tempo, e muito menos da <a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Eterno_retorno" target="_blank">filosofia do Eterno Retorno</a> de <a href="http://lelivros.site/book/download-o-anticristo-e-ditirambos-de-dionisio-friedrich-nietzsche-em-epub-mobi-e-pdf/" target="_blank">Nietzsche</a> – que
até encontra, é verdade, algum apoio em certas especulações científicas. Mas ao
menos é preciso lembrar que, sendo o tempo uma dimensão, então hipoteticamente
haveria um ponto de vista fora do tempo, no qual todos os instantes são
eternos: eles estariam lá para sempre, todos os momentos de nossas vidas. É
como se cada instante fosse um ponto arranjado ao lado de outros, numa
superfície chamada <a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Tempo" target="_blank">Tempo</a>. Nossa consciência, inserida em um universo entrópico,
percebe apenas um ponto por vez, em uma sequência causal. Mas cada momento de
nossas vidas está lá, eternamente presente. Tudo isso foi dito apenas para
potencializar a entrada em cena, na nossa viagem ao mais fundo abismo da
insignificância humana, de outro personagem, dessa vez literário.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">Em
um trecho da <a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Os_Irm%C3%A3os_Karamazov" target="_blank">obra Irmãos Karamazov</a>, o pessimista Ivan Karamazov conta-nos a
história de uma menininha que foi barbaramente torturada por seus pais, que
sujaram seu rosto de merda antes de trancá-la em uma latrina, sozinha, durante
uma noite inteira. Ivan argumenta que se apenas uma vez em toda história do
universo uma só criança foi submetida a tamanho sofrimento, isso é o suficiente
para definir toda a Criação como um perfeito cataclismo, um desastre de
proporções universais. Para o mais atormentado dos Karamazov (um cara que
mantinha diálogos com <a href="http://www.baixartv.com/download/lucifer/" target="_blank">o diabo em pessoa</a>), diante das lágrimas de uma só criança
inocente submetida ao terror, o mundo inteiro não tem qualquer valor. É como se
aquele fato, mesmo que fosse o único, continuasse a existir, de alguma forma,
para sempre. E hoje sabemos que todo fato, de certa forma, nunca deixa de
acontecer. Ele está sempre ali, em seu lugar no tempo. A criança sempre chora
no banheiro escuro, com sua máscara de fezes. Seu pranto sempre poderá ser
ouvido.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">Pior
ainda, sabemos que não há apenas uma criança. Sabemos que incontáveis crianças
foram e são agredidas, abusadas, violentadas e submetidas às mais diversas
formas de injustiças e violências desde que o mundo é mundo. Não é nem preciso
ser versado em história da humanidade. Basta abrir o jornal para ver que se
trata de um coral sinistro de prantos e gritos infantis, ecoando pelo breve
tempo em que o universo, silencioso e gracioso com suas rochas planetárias e
bolas de gases incandescentes, testemunha a insignificante presença humana.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">5.
Madrugada clara: na noite é que nossos olhos resplandecem<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">Na
1º temporada de True Detective, o personagem Rustin Cohle confronta-se em todos
os episódios com outro personagem. Na série, o detetive Marty (<a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Woody_Harrelson" target="_blank">Woody Harrelson</a>)
representa, em diversos aspectos, o oposto de Rustin, até por ser alguém que
alega acreditar no sentido da vida e na importância dos valores de nossa
sociedade. E o que nos importa é que, quando uma terceira personagem, que
conhecia bem os dois, tentou descrevê-los, disse o seguinte:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;"> “Rust sabe exatamente quem ele é, e não há
quem o convença do contrário. Já o único problema de Marty é que ele não
conhece a si mesmo, então jamais soube o que quer.”<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">Segundo
Rustin, a única diferença entre ele e Marty, sua contraparte, é a negação. Ou
seja, Marty nega-se a enxergar a verdadeira natureza da realidade. E assim ele
tenta encobrir suas próprias incoerências emocionais e o modo descuidado como
machuca quem o ama com desculpas para sua incapacidade de perceber o que
realmente é importante nesta vida finita e cercada de incertezas. Como ele
próprio diz em determinado momento da série, seu maior pecado é não ter
prestado atenção ao que importa. O que nos espanta, já que viveu negando sua
real condição humana, submerso que estava na ilusão de que, no fundo, é
imortal. Foi <a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Drummond_de_Andrade" target="_blank">Carlos Drummond de Andrade</a>, em “<a href="http://letras.mus.br/carlos-drummond-de-andrade/818518/" target="_blank">Os Ombros Suportam o Mundo</a>“, que
expressou toda a potência que encontramos durante essa nossa viagem pela noite
escura, quando assumimos o risco de aceitar até mesmo o lado mais desagradável
de nossa condição humana, a de que morreremos. O poeta, em meio a versos duros,
de ferro, afirma que “na sombra, teus olhos resplandecem enormes”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">E
é verdade. Quando aceitamos os aspectos mais indelicados, mais crus, da realidade
humana, a luz que parece faltar ao nosso redor surge em nossos olhos, e
percebemos que dia e noite são apenas uma questão de perspectiva. Pois se
vermos nossa condição pessoal, enquanto seres humanos, tal como ela realmente
é, significa lucidez (do latim lucidus, que significa “cheio de luz”) então não
há momento de maior claridade do que esse. Assim, a consciência de nossa
mortalidade pode rearranjar nossas prioridades e nos encorajar a não protelar
nosso comprometimento com a vida. A percepção da impermanência de tudo pode
transformar a forma como nos relacionamos com os outros e com o mundo, além de
reestruturar nossa escala pessoal de valores. A compreensão de que certa quota
de sofrimento é parte inerente de nossa existência pode estimular o exercício
da compaixão por todos os seres vivos, já que todos nós vivenciamos a mesma
experiência fundamental de confusão e finitude.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">É
interessante que, quando lhe perguntam por que não desenvolveu seus outros
talentos, como a pintura, e decidiu devotar-se totalmente à carreira de
detetive, Rustin respondeu que a vida mal dura o suficiente para nos tornarmos
bons em uma só coisa, isso quando dura, então é bom se cuidadoso com aquilo no
qual você escolher ser bom. Como um banho de água fria, compreensão de que
nossas vidas são finitas tem a vantagem de nos acordar e limpar a sujeira em
nossos olhos, eliminando todos os obstáculos que nos impedem de ver o que
realmente importa aqui e agora. A permanente consciência de que vamos morrer um
dia é capaz de rearranjar nossos valores e prioridades de uma forma mais fiel a
nossos princípios e caráter. Já não perdemos tempo nem nos distraímos com
coisas que nos desviam do que realmente é importante em nossas vidas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">Como
os antigos samurais que acordavam a cada manhã e pensavam que aquele podia ser
seu último dia neste mundo, Rustin está sempre consciente de que a existência é
breve, de que não temos muito tempo, de forma que é necessário escolher bem o
que se deve fazer nesta vida.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">6.
Amanhecer<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">Consolar-se
apenas nas preciosas vantagens de reconhecer a finitude da vida ainda é pouco.
Não queremos apenas a madrugada consoladora, marcando a passagem da meia-noite.
Queremos a manhã completa. Desejamos seguir na jornada ao fim da noite até seu
verdadeiro final, até encontrar um sol. Talvez (eu disse talvez) Rustin e os
filósofos pessimistas, sujeitos que eu não convidaria para um bar de karaokê,
estejam corretos em descrever a condição humana como finita impotente,
transitória, e nossa personalidade como mero resultado de funções
essencialmente orgânicas. Talvez tenham razão em dizer que somos apenas um
“fantasma” decorrente de uma tempestade elétrica que agita o cérebro humano, um
acidente evolutivo imerso em um universo hostil e sem sentido. Porém, e por
mais estranho que isso possa soar a muita gente, tal percepção dos fatos não é
essencialmente trágica. Não há pessimismo inerente em nada disso.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">Pois,
como disse <a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Fernando_Pessoa" target="_blank">Fernando Pessoa</a>, ninguém chora porque as pedras não são
perfeitamente redondas. E isso ocorre porque sabemos que essa ideia é apenas
isso, uma ideia em nossas cabeças, sobre a forma perfeitamente esférica, que
poderiam ter as pedras. Da mesma forma, apenas o fato de que fomos educados e
condicionados a conceber algumas ideias (a eternidade da alma, a existência de
uma razão para tudo, a importância fundamental de nossa individualidade) como
descrições da realidade é o que nos faz “chorar” quando vemos que as pedras de
nossa vida não são redondinhas como nos prometeram que seriam.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">Portanto,
ainda que talvez seja correta a descrição da vida feita por Rustin Cohle e por
todos aqueles filósofos pessimistas que eu não espero ver cantando alegremente
“<a href="https://www.youtube.com/watch?v=gRtAO-nffz0" target="_blank">Obladi Oblada</a>” num domingo ensolarado, o fato é que essa descrição está
equivocadamente pintada com cores emocionalmente negras, e não porque a
realidade seja sombria, mas porque essas são as tintas escuras que nosso ego,
decepcionado por ter caído do cavalo, decide utilizar. Pois a verdade é que não
somos máquinas que meramente registram fatos, e sim seres vivos que reconstroem
emocionalmente esses fatos ao mesmo tempo em que os observa, interpretando-os
em um contexto específico.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">E
que contexto é esse? Invariavelmente é o contexto do ego. E o ego é aquela
parte de nós que, desenvolvendo-se a partir do instinto de sobrevivência animal,
fala sempre “eu, eu, eu, eu”. É aquela parte em nós que mede todas as coisas do
mundo segundo si próprio, que alimenta continuamente a ilusão sobre sua
auto-importância, e que facilmente abraça a ideia de que se é alguém especial,
um ser único, possivelmente eterno. Quando o ego quer, nada é capaz de fazer
com que ele compreenda e aceite as razões pelas quais seu querer não pode se
converter em uma ordem para o universo. O ego é aquela parte de nós que vive
todo dia como se a vida fosse um grande filme cujas câmeras estão todas focadas
para sua própria história pessoal (qualquer semelhança com o <a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Facebook" target="_blank">Facebook</a> não é mera
coincidência). O ego é aquela parte em nós que nos conta, todo dia e para cada
fato que nos ocorre, uma novelinha sobre quem somos e sobre o porquê de
estarmos ali.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">E
é o ego humano que se desespera, ao despertar para a verdade de que sua noção
de auto-importância é um tanto exagerada. É o ego humano que se deprime
profundamente quando acorda e vê que sua novelinha no fundo é um arremedo de narrativa
que mal encobre a verdadeira história, “cheia de som e fúria, significando
nada”, que sua vida é finita. E então o ego, portando-se como uma criança
mimada, faz exatamente aquilo que o personagem Rustin Cohle faz: reage
emocionalmente aos fatos. E aí estamos diante de uma pessoa como várias que
conhecemos no mundo real, alguém que se torna quase uma caricatura.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">É
o tipo de pessoa que, como um <a href="http://lelivros.site/book/download-hamlet-drama-em-cinco-atos-william-shakespeare-em-epub-mobi-e-pdf/" target="_blank">Hamlet</a> fora de seu tempo, arma uma cara de quem
está chupando limão, veste roupas rotas ou escuras, começa a amaldiçoar a vida,
repete todos os dias a si mesmo que a existência é terrível, que o mundo é como
o inferno, que nada vale alguma coisa, que todos somos carne condenada à
infelicidade, que a solução é se entorpecer e não acreditar em nada, não esperar
nada, não lutar por nada. Isso tudo, no fundo, não passa de uma reação
infantil, digna de um menino de dois anos. E como fazemos para crescer? Não é
nada simples, mas muito promissor: precisamos superar a perspectiva do ego.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">7.
O sol<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">Para
questionar a visão dos pessimistas como Ligotti, Cioran, Edgar Saltus, Unamuno
e Wessel Zapffe, caras que eu não convidaria para animar uma festa de
aniversário, não precisamos atacar seu pressuposto de que a consciência é
meramente um produto do organismo humano, do cérebro. É que esses pensadores,
que enxergam na consciência humana uma aberração da natureza diante da qual
devemos reagir extinguindo a nós próprios, partem de uma ideia possivelmente
errônea: a de que este momento em que a consciência humana se encontra é seu
momento definitivo, estagnado, e não uma mera etapa de sua evolução. Eles
contradizem, de certo modo, o próprio pressuposto de sua teoria — a de que há
um processo de desenvolvimento da consciência, que nos trouxe aqui, até esse
momento que eles consideram terrível. Parecem sequer supor que esse processo
pode estar em franco desenvolvimento, e deixam de cogitar que, em uma próxima
etapas da evolução da consciência, poderemos superar alguns dos atuais dilemas
da condição humana.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">A
esses pessimistas não ocorre que podemos ser apenas um malabarista na corda
bamba que liga dois pontos: de um lado, no passado, o estado animal do qual
viemos; do outro, no futuro, um estado de percepção da realidade em que não
sofremos mais com o abismo que supostamente há entre as aspirações de nossa
mente e os limites da realidade orgânica. Wessel Zapffe, por exemplo, chegou a
sugerir que a solução para o problema é “limitarmos” nossa consciência, é
ficarmos mais alienados, mais idiotas. Parece sequer cogitar que a solução esteja,
ao contrário, em expandir essa consciência.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">E
aqui cabe a pergunta: se a consciência tem a capacidade paradoxal de julgar a
própria natureza que a origina e mantém, não teria nossa consciência,
atualmente, também a paradoxal capacidade de alterar a si mesma? Em outras
palavras: a consciência, por meio não só da ciência, mas também de outras
ferramentas exploratórias, como a meditação (que nada tem de mística ou
sobrenatural) não seria capaz de acelerar sua própria evolução? E qual o
sentido dessa evolução? As duas primeiras perguntas prefiro não responder. Mas
arrisco a terceira: se eu pudesse apostar em uma direção, seria naquela em que
nossa consciência se desenvolve ao ponto de relativizar a posição do ego em
nossas vidas, mantendo-o fortalecido apenas nas funções para as quais ele ainda
faz bem seu trabalho (afinal, precisamos sobreviver, nos alimentar, conseguir
um emprego…), mas deslocado do centro de nossa percepção da vida e de nossa
interpretação do mundo circundante.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">Somente
uma consciência que conseguiu sair da caixinha do ego é capaz de fazer frente a
um mundo que não corresponde às expectativas alimentadas por esse mesmo ego.
Somente uma consciência que ampliou a si própria para além dos limites do ego é
capaz de evitar que ele afunde na depressão e nas lamúrias de uma criança
mimada que viu seu brinquedinho (as suas expectativas sobre como a vida deveria
ser) cair no chão e se quebrar. E então chegou o momento em que podemos
conferir outro sentido para aquela proposição que, embora já seja lugar-comum,
não deixa de ser menos verdade: a de que cabe a humanidade construir um sentido
coletivo para a vida. E só então percebemos a clarividência de <a href="http://lelivros.site/book/genealogia-da-moral-friedrich-nietzsche/" target="_blank">Nietzsche</a>,
quando afirmou que a arte é a única coisa que redime a vida, que supera seus
aspectos problemáticos e dolorosos. Mas não arte apenas enquanto escultura,
literatura, música, e sim arte como no radical de artífice, como a capacidade
humana de utilizar seu poder criativo para esculpir sua própria identidade,
inventar e narrar a si própria à evolução da própria consciência, cantar um
sentido para sua própria vida.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">Talvez
esse impulso criador e criativo da mente humana seja a chama que resplandece em
nossos olhos. Sim, porque temos olhos, enquanto as rochas planetárias e os
gases incandescentes que povoam o universo são cegos para seu próprio brilho. Por
trás de toda essa história apenas esteja a mais antiga de todas, sobre a
batalha entre a escuridão de nossa ignorância e a luz em nossa consciência. Uma
luz que, se não existe fora de nós, se não é dada abundantemente pela natureza,
então precisamos alimentar e ampliar, pois talvez <a href="http://lelivros.site/book/download-livro-jung-e-a-construcao-da-psicologia-moderna-sonu-shamdasani-em-epub-mobi-e-pdf/" target="_blank">C. G. Jung</a> esteja certo em
dizer que o único propósito da existência humana é acender uma luz nas trevas
do mero existir.<o:p></o:p></span></div>
Leandro Aronahttp://www.blogger.com/profile/18111155335348221810noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3548819684143704077.post-36087685996951876882015-08-24T08:36:00.000-07:002015-08-24T08:36:55.919-07:00A IPANEMA FM AGORA É MERAMENTE HISTÓRIA (OU: COMO TUDO NA VIDA TEM SEU FIM)<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;">Pois
é, às 7h da manhã de 18-5-15, a Ipanema FM 94,9 “morreu”, sendo substituída
pela rádio Band AM de Porto Alegre; uma lástima, para muitos - será, agora,
somente uma web rádio. Para mim e outras pessoas, um fim há muito tempo
aguardado. Lamentações no facebook e em sites locais de notícias não faltaram;
compreendo a “dor” (se é que esse é o conceito correto) pelo fim de uma
entidade tão importante na cultura de Porto Alegre durante a década de 1990,
mas a velha Ipanema já estava em “ponto morto” e “ladeira abaixo” em termos de
relevância há mais de uma década.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;"> Comecei a ouvir a programação da
emissora em janeiro de 90, perdeu-se na memória se alguém me indicou a emissora
ou sintonizei por acaso no dial do aparelho, o que certamente tenha sido o mais
provável, e claro que me chamaram a atenção àquelas canções tão diferentes de
artistas e grupos que não eram executadas na também extinta Universal FM.
Demorou um pouco para me adaptar àquela pauta musical e àqueles locutores que
falavam como se estivessem em uma mesa em algum bar no Bonfim; não que eles me
parecessem mais inteligentes ou mais ousados que os de outras emissoras, mas
eles tocavam músicas e abordavam assuntos que outros não queriam ou podiam
mencionar, e isso era um diferencial para mim e tantos outros ouvintes.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;"> Kátia Suman, Nara Sarmento e Mary
Mesari (espero ter digitado teu sobrenome corretamente) são as vozes de rádio
“oficiais” da minha adolescência, qualquer novo grupo ou músico que elas
afirmavam ser bom, obviamente era bom, a gente confiava no que elas diziam; já
o “alemão” Vitor Hugo não era alguém que eu costumasse ouvir seu horário, mesmo
porque nesse período eu ia ao colégio durante a manhã, e tinhas as tardes e
noites disponíveis para escutar a rádio. E outra locutor de rádio de rock que
quer falar sobre seu time de futebol (sou torcedor do Internacional, assim como
o Vitor Hugo fanfarrão) que vá trabalhar em rádio de esportes!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;"> Não me reservo à nostalgia que
muitos “ipanêmicos” expressam pela desativação da emissora, só que é preciso
entender que qualquer contexto que tenha tido um auge, invariavelmente terá um
fim se não se renovar, se não se atualizar. E é isso exatamente isso que houve
com a 94.9; desde o momento em que me tornei ouvinte da rádio até o corrente
mês de maio de 2015, senão o mundo, ao menos a sociedade local mudou bastante,
e a tecnologia em geral avançou de um modo impressionante. Lembro-me de um
programa que era transmitido, se não estou enganado às terças-feiras às 23
horas (ou era às 0h de quarta para quinta-feira?), chamado “A Hora do Demo”,
para o qual as bandas iniciantes da capital do Rio Grande do Sul e cidades
vizinhas enviavam suas fitas demo, a fim de que fossem veiculadas naquela uma
hora de programa. Afora esse único espaço na grande mídia para quem não tinha
ainda um contrato com qualquer gravadora, por menor que fosse a única
alternativa era tocar, por exemplo, no também defunto Garagem Hermética para
meia dúzia de pessoas, sem qualquer garantia de futuro nessa empreitada árdua
que é uma carreira musical.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;"> O avanço tecnológico da década de
1990, que abarca a chegada da internet no país, o que inclui o acesso a sites
sobre música (em língua portuguesa, em inglês, em francês), de compartilhamento
de arquivos em mp3 e depois, com o surgimento do Youtube, transformaram
radicalmente a forma com que as pessoas conhecem música e o modo com artistas
iniciantes divulgam suas gravações (sendo que atualmente, com o equipamento
adequado, pode se gravar quantas músicas se desejar e “jogá-las” na internet),
somado ao encerramento de atividades de vários artistas e bandas que
despontaram com a onda do rock gaúcho na década anterior, são os fatores
cruciais para a “puxada de tapete” da Ipanema como a emissora que executava aquela
“pauta musical” que não cabia nem na Universal FM nem na rádio Atlântida, e
isso foi fatal para a emissora, que ao deixar de ser a “definidora de gostos
musicais e culturais não-mainstream”, começou a se perder no finalzinho do
século XX.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;"> Afirmo isso, pois ali por 1999,
2000, nos domingos à noite passou a ser um veiculado um programa apresentado
por uma modelo e um DJ (não me lembro de seus nomes, providencialmente), que se
não me engano trocavam algumas figurinhas sobre moda e comportamento, sendo que
o tipo de música executado era hip-hop, uma orientação bem diferente do que
estávamos até então acostumados, e nos anos seguintes, a emissora parecia mais
haver se tornado uma rádio de rap do que qualquer outra coisa, e esse foi o
momento em que “abandonei o barco”. Em 2006, tentei voltar a escutar a
programação, só que ali naquele momento, parecia que a Ipanema havia se tornado
uma rádio de reggae, e outra vez desisti de ouvi-la. Isso sem contar as
transmissões de partidas de futebol, em forma de rede com a Band AM 640 (2011 -
2014), o que espantava muitos ouvintes nos finais de semana.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;"> De 2013 para cá, pareceu haver um
ensaio de renascimento, só que não muito crível o que ficou claro com o
surgimento de um programa chamado “A La Minuta”, um espaço para debates os mais
variados entre 12h e 13h; difícil engolir as opiniões de “gênios” tais quais
Cagê Lisboa, Ico Thomaz, Fabiano Baldasso e Tadeu Malta (todos ex-funcionários
da RBS, curioso) e, como se não bastasse, daquelas menininhas locutoras, como a
Juli Baldi, que se acham donas da verdade e que querem todos engulam as
opiniões delas sobre o modo de viver das pessoas - neste momento, ocorreu a,
digamos, “morte cerebral” da emissora! Uma tentativa vã de ter recuperar a
relevância midiática e cultural de duas décadas antes, com um mudança de perfil
(e um certo ranço reacionário) que não convencia: a Ipanema de janeiro de 90
tinha a cara do quarteirão que fica no início da Avenida Osvaldo Aranha, de
frente para o Campus Centro da UFRGS, contestadora, levemente esquerdista e
pluralista; a Ipanema “renascida” de 2014 tem a cara da Cidade Baixa, festeira
(com um ranço de estar alcoolizada exagerada e imprudentemente), pensando que
sabe de tudo, mal disfarçadamente direitista, cheia de si e com muito pouco a
dizer. Desse jeito, não teria como continuar, mesmo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;"> O anúncio do fim da emissora pegou
muita gente de surpresa, mesmo a mim, quando o Cagê Lisboa postou em seu perfil
no facebook que tinha sido demitido (isso foi na segunda dia 11/5); antes, o
Blog do Prévidi em post extraordinário ao meio-dia do domingo 10/5 anunciava a
mudança, que é compreensível até, dado que a Band RS era a única emissora a
transmitir notícias e futebol que ainda não tinha frequência em FM (sendo que
as rádios Gaúcha, Guaíba e Grenal as têm já há alguns anos, e pela Bandnews
Porto Alegre é possível transmitir apenas uma partida em cada rodada) e,
convenhamos, jornalistas veteranos tais como Luiz Carlos Reche, André Machado,
Diego Casagrande e José Aldo Pinheiro não se transferiram para a Rede
Bandeirantes para serem ouvidos por quase ninguém.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;"> Quem se manifestou na internet
contra o fim da emissora, lamentou no mais das vezes a extinção da mesma,
outros a citaram como fator fundamental em sua “educação cultural”, sendo que
alguns apontaram que essa situação seria uma ação da Rede Bandeirantes no
sentido de “destruir a cultura de Porto Alegre”, como se a Ipanema FM 94.9
fosse realmente uma “estrutura alternativa”: pensem bem, uma “estrutura
alternativa” teria 32 anos de existência dentro de uma empresa capitalista, se
essa cultura que diziam que a rádio propagava não fosse algo “comercialmente
vendável”? Aí não seria uma emissora comercial, e sim nos moldes da FM Cultura
103,3 de Porto Alegre (pertencente ao governo do RS) ou a Rádio da Universidade
Federal do RS, essas duas sim veiculam música e cultura bem menos “vendáveis”
que rock and roll, hip-hop e reggae, pauta costumeira da Ipanema nesses últimos
16 anos - sim, foram dezesseis anos de desorientação e de uma “agonia” patética
e ridícula! Curioso, que nessa semana derradeira, sem os locutores, a Ipanema
tocou mais rock and roll do que vinha fazendo até então.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;"> Para preencher esse espaço, há a
Unisinos FM 103.3, que é uma emissora quase razoável e que não tenta ser nem a
“velha” nem a “nova” Ipanema, apesar de veicularem umas músicas indie muito
chatas em sua programação, e que até partidas de futebol transmite (com uma
equipe de esportes que fala de Real Madrid e Barcelona em seus programas, felizmente!).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;"> Fica a saudade para todos nós que
ouvimos a Rádio Ipanema FM 94.9 em algum período de nossas vidas,
preferencialmente em seus melhores tempos, a revolta e lamentação daqueles que
não queriam a desativação da mesma e transformação em web rádio, só que veículo
de comunicação não dura muito tempo se não se renovar.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;"> RESMUINDO: NADA NA VIDA É ETERNO, E
NÃO SERIA UMA EMISSORA DE RÁDIO FM QUE TERIA ESSA CONDIÇÃO, NÃO É MESMO?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 150%;"><a href="https://www.youtube.com/watch?v=dt_8aDOJvtM" rel="nofollow" target="_blank">https://www.youtube.com/watch?v=dt_8aDOJvtM</a></span></div>
Leandro Aronahttp://www.blogger.com/profile/18111155335348221810noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-3548819684143704077.post-678815497360017422015-08-20T07:58:00.001-07:002015-08-20T07:58:21.607-07:00Que belos protestos de domingo (16-8-2015), não?<!--[if gte mso 9]><xml>
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<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Mas porque
protestavam os paulistanos? Porque o bife de contrafilé está mais caro; pedem o
impeachment de Dilma Rousseff, mas elegem José Serra para senador, Fernando
Haddad para prefeito e Geraldo Alckmin para governador;</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
E porque
protestavam os cariocas? Porque o filé mignon está mais caro; também pediam o
impeachment de Dilma Rousseff, todavia elegem Romário para senador, Eduardo
Paes para prefeito e Luís Fernando Pezão para governador; elegem também para
deputados federais Jair Bolsonaro, Jandira Feghali, Alessandro Molon e Jean
Wyllys;</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Quanto aos
belo-horizontinos? Também exigem a saída de Dilma; porém, votaram em Márcio
Lacerda para prefeito, Fernando Pimentel para governador e Antonio Anastasia
para senador e Patrus Ananias e George Hilton para deputados federais;</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
E nós, aqui no
Rio Grande do Sul? Também se foi às ruas de Porto Alegre clamar pela derrubada
de Dilma Rousseff, porém votou-se em José Fortunati para prefeito de Porto
Alegre, em José Ivo Sartori, Tarso Genro, Ana Amélia Lemos e Vieira da Cunha
para governador, em Lasier Martins, Olívio Dutra, Simone Leite e Pedro Simon
para senador, em Luís Carlos Heinze, Danrlei ex-goleiro do Grêmio (?!), Onyx
Lorenzoni, Giovani Feltes, Paulo Pimenta, Marco Maia, Henrique Fontana, João
Derly, Maria do Rosário, Nelson Marchezan Júnior e Sérgio Moraes para deputados
federais, além de colocarmos na Assembleia Legislativa Manuela D’Ávila, Lucas
Redecker, Edegar Pretto, Gilmar Sossella, Marcelo Moraes e Jardel ex-centroavante
do Grêmio (?!).</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Visto isso
tudo, será que o problema, além de estar nos políticos que estão em seus
cargos, não está também nos eleitores que neles votam, de um modo geral. Em
2016, teremos eleição para prefeitos e vereadores; e então, você aí, que é
eleitor, votará nos mesmos políticos e partidos que sempre estão no poder, ou
vai dar o seu recado a esta classe política e aos eleitores alienados por meio
do voto em branco? Porque, sinceramente, quem vota mais de uma vez no
Democratas, PCdoB, PDT, PMDB, PP, PSB, PSD, PSDB, PT e PTB não gosta apenas de
sofrer individualmente, gosta que os outros sofram junto.</div>
Leandro Aronahttp://www.blogger.com/profile/18111155335348221810noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3548819684143704077.post-80023817666310063772015-03-28T06:47:00.000-07:002015-03-28T06:47:03.643-07:00<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Segunda-feira,
25 de novembro de 2013.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Pobre
da velha <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Zapeando
a televisão domingo ao meio dia, vejo Gal Costa no “Esquenta”. Veio–me um
sentimento de pena por ela. Sua carreira já está no ocaso, e para ter atenção
do público ou da mídia, se sujeita a aparições em péssimos programas como esse.
Às vezes não sei o que pensar de cantores que chegam a um ponto assim em suas
carreiras, deve ser complicado a não–aceitação da passagem do tempo, o fato de
não atraírem mais o interesse do grande público e se submeterem a situações
vexatórias em troca de migalhas de atenção.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Acho
terrível, de um modo geral, ver pessoas nessa atitude de negar que o tempo
passa, tentando viver uma juventude que já não têm mais há tanto tempo. Então
ser artista nesses tempos atuais é isso? Buscar a notoriedade como um fim e não
como um meio? Como em tudo na vida, esse pessoal deveria ter mais respeito
próprio e não se sujeitar a qualquer coisa em troca de fugazes momentos de
aparição em um programa televisivo. Ou serão tão prisioneiros assim de seus
egos e da falsa sensação de grandeza? Pior, será que todos nós, mesmo não sendo
músicos ou atores, agiremos assim também?<o:p></o:p></span></div>
Leandro Aronahttp://www.blogger.com/profile/18111155335348221810noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3548819684143704077.post-86216200274076936432014-06-09T11:50:00.003-07:002014-06-09T11:50:46.949-07:00É, Caio, quem disse que a vida era tranquila?<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Caio
lembrou o quanto Sara estava longe, naquele momento; houvera se dado conta de
que jamais a veria novamente... Apenas para sua própria tristeza, tão somente
para cultivar uma saudade que usualmente pareceria nunca cessar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Palmilhando
uma rua punk de uma cidade punk, não podia negar a miséria que contaminava sua
alma. Olhou para cima, divisou a lua cheia entre as nuvens negras e
secretamente, pediu, implorou por redenção, qualquer que fosse. Entretanto, ele
sabia–sentia que Deus nunca existiu, e sentiu que, definitivamente, seria
impossível conforto algum para um coração perturbado como o seu...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Entrou
em um bar (chique, aliás), e praticamente ordenou ao bartender que lhe
entregasse uma garrafa de Johnny Walker. Eis que viu Jezebel sentada a seu lado,
e naquele momento percebeu, surpreso, que ela lhe oferecia a chance de cometer
todos os pecados.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">E
então a seguiu para seu apartamento – sentia que sua ansiedade parecia mesmo
lhe indicar como se comportar, origem de um desejo pungente. Uma pulsão
animalesca lhe ordenava rasgar as roupas de Jezebel, beijá-la, lambê-la, sentir
seu sabor, mordê-la, acariciá-la, estapear seu rosto, tudo isso com um único
intuito: esquecer a saudade que nutria por Sara, sentimento que agora acreditava
irremediavelmente parte permanente de sua alma!<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Ao
acordar, viu o primeiro raio de sol, a luz primeira da aurora a iluminar a pele
tão branca daquela desconhecida, seu cabelo ruivo; ouvia sua respiração.
Dirigiu-se a uma janela para poder fumar um cigarro, quando teve a certeza de
que continuava tão vazio quanto na noite anterior a tudo aquilo. Surpreendeu-se
ao ouvir um Daft Punk, ainda que distante, àquela hora da manhã ("lose
yourself to dance...") e sentiu que os próximos dias seriam difíceis. Nada
intuía sobre seu futuro emocional imediato, e também nem estava interessado em
saber...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/NF-kLy44Hls?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
Leandro Aronahttp://www.blogger.com/profile/18111155335348221810noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3548819684143704077.post-51199436832873836052014-06-09T11:47:00.001-07:002014-06-09T11:47:07.032-07:00Taking a Walk on the Wild Side.<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Quarta-feira,
seis de novembro de 2013.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span lang="EN-US" style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-ansi-language: EN-US;">Taking a Walk on the Wild Side.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Sábado,
dia de finados, de tarde, Porto Alegre. Estava eu subindo a Marechal Floriano
Peixoto, rumo a Duque de Caxias, quando me deparo com esse suposto casal, ele
louro e bem alto, ela mais baixa que ele, igualmente loura. Eu até iria passar
por ambos, só que ha uns vinte metros de mim, o cara vai para o outro lado da
rua. Olhei para trás para dar outra olhada nela, e me deparo com o cara em uma
atitude, no mínimo, bom nem sei como adjetivar; ele estava com as calças e
cuecas abaixadas na parte de trás, deixando a mostra suas nádegas com marcas de
bronzeado – marcas de fio dental. Sim, o cara era um gay, em um momento deveras
homossexual, isso é o que posso dizer do que ele estava fazendo, mesmo porque
foi a primeira vez que vi qualquer homem gay fazer algo assim.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">E
eis que, então, a “mulher” grita algo para o gay, e pelo seu timbre de voz,
outra constatação, “ela”, na verdade, é um homem bastante transexualizado!
Todavia, não imaginaria que fosse um transex, o que a/o traiu foi o timbre de
voz meio intermediário e o jeito tremendamente afetado e falsamente feminino,
que me pareceu associável a um homem gay que passa por todo aquele processo de
transexualizaçao. Porém, “ela”, até então, me pareceu ser perfeitamente uma
mulher “comum”, digamos assim... Não entendi o que “ela” em voz alta bradava
para o outro, e nem quis saber, pois preferi seguir meu caminho.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">No
segundo seguinte a dar as costas a ambos, me veio à mente a memória de Lou Reed
cantando "Walk On The Wild Side", canção em que o falecido
nova-iorquino descreve as estorias de dois travestis de fora da Big Apple e de
como foram parar na cidade. Se tudo aquilo que vi fosse parte de um filme, essa
canção de Reed até poderia ser a melhor trilha sonora disponível para ilustrar
toda a situação. Nunca tinha visto algo do tipo em trinta e seis anos de vida
e, sinceramente me senti dentro de um daqueles filmes sessentistas de Andy
Warhol, se ele os rodasse na atualidade.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Ah,
sim a canção:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/4wNknGIKkoA?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
Leandro Aronahttp://www.blogger.com/profile/18111155335348221810noreply@blogger.com0